sexta-feira, 22 de maio de 2009

DIA DA LUTA ANTIMANICOMIAL

Rio de janeiro, 20 de maio de 2009.

Bom dia. Hoje é um dia muito importante para mim, porque hoje nós estamos reunidos para comemorarmos o dia nacional da luta antimanicomial.

Agradecimentos,

Á direção da Universidade Veiga de Almeida; à coordenação de Psicologia; aos alunos do curso de graduação em Psicologia do campus barra e do campus tijuca; à coordenação do Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade; à coordenação do SPA; aos companheiros, Ricardo Aquino, Sylvia Gonçalves, Edvaldo Nabuco, Lana Braga, Gloria Perez, Esther Wenna, Ricardo Azevedo Gualvedo, Michele Borges de Aquino, Clara Feldman, Maria Lenilva M. Costa, a banda Mil coisas, aos cancioneiros do IPUB e ao Sistema Nervoso Alterado.

Agradeço o apoio do Papel Pinel, All Energy, Walprint.

Agradeço, ainda, aos meus alunos e monitores pela colaboração com meu trabalho e com a organização desse evento: Ana Luísa Tavares, Anna Luiza Barboza, Arthur Júnior, Cristianne Otero, Cristina Miranda, Daniela Dias, Débora Longui, Etiene Marcon, Fernanda Guapyassú, Francisco Maia, Helga Goldenberg, Joyce Guilherme, Letícia Moura, Luciano Rosalba, Luís Manuel Braz, Mariana Marques, Nathália Peret, Quezia Oliveira, Renata Marapodi, Rosita Meirelles, Simone Ferreira e Themis Marques.

Meu muito obrigada !

 

Estamos comemorando 22 anos do movimento de luta antimanicomial e 30 anos (1979) da visita de Franco Basaglia ao Brasil. Sua presença instigou e provocou o debate sobre as diferentes perspectivas de compreensão da loucura e suas relações com os saberes, as instituições, a cultura e os processos sociais.

Os temas propostos por Basaglia convidavam a pensar de modo bastante inovador a instituição psiquiátrica e a possibilidade de inventar diferentes formas de lidar com a experiência das pessoas com sofrimento psíquico.

Basaglia afirmava a necessidade de superação do manicômio e com isso produzia uma profunda transformação de ótica. Ele afirmava que este processo de transformação/superação do manicômio não poderia ser compreendido como apenas um novo modelo técnico e também não se encerrava no interior da instituição, mas era necessário colocar principalmente em discussão a finalidade da existência do manicômio, assim como era também crucial reentrar na cidade, reinscrever os problemas das pessoas internadas em sua dimensão existencial e também era urgente produzir novas instituições. Em outras palavras, a superação das instituições da violência era/é uma exigência ética.

Assim, o debate sobre a loucura e as instituições psiquiátricas transcendem os limites dos muros dos manicômios, adentram o espaço público e é importante sublinhar que a questão psiquiátrica não é um problema puramente científico, mas também é uma questão social, política e cultural

Desse modo, é colocado em discussão que a crítica ao modelo asilar não se situa apenas no interior do discurso técnico-científico, mas sobretudo no conjunto de questões sociais, tendo como fios condutores a exclusão e a cidadania.

O conceito de cidadania dos doentes mentais, se relaciona à ampliação dos direitos sociais, jurídicos e politicos dos mesmos.

A capacidade de incluir a questão psiquiátrica como parte das questões sociais, trancendem os limites impostos pelo saber/poder medico, e significa um desafio na busca de novas interpretações e práticas que não anulem a loucura como experiência humana.

Assim, arriscamos a dizer com Paulo Amarante que “ os intinerários de Franco Basaglia – éticos, práticos, teóricos e politicos – convidam, sobretudo, a aprender a aprender, a negar as diferentes formas de objetivação do homem, a recusar a exclusão como resposta natural e imutável, a buscar a superação das instituições da violência, a arriscar o encontro com a complexidade da existência-sofrimento das pessoas e a inventar percursos de negação, superação e invenção de novas realidades. “

Foi com a intenção de negação, superação e invenção de novas realidades que, então, foi contruído o lema da luta antimanicomial: “Por uma sociedade sem manicômios”, lema este   polêmico/instigante.

Assim, quando optamos por defender uma sociedade sem manicômios, vivemos as conseqüências desta decisão e a primeira é a de que o movimento deixa de ser o movimento dos trabalhadores de saúde mental para tornar-se um movimento social, ou seja, aberto a todos os interessados em repensar as formas e modos de presença da loucura.

Dessa forma, quando definimos a luta antimanicomial como movimento social, implicamos o corpo social neste processo. E por assim pensar, temos conduzido, no Brasil, uma longa luta pela extinção não só dos hospitais psiquiátricos, mas estendemos/entendemos a nossa luta a/de todas as formas derivadas ou vinculadas à ordem manicomial.

Como sabemos, os manicômios são lugares não só no sentido geográfico destinados à loucura fora-da-cidade, mas a cima de tudo no sentido político, pois para lá vão todos aqueles declarados incapazes de decisão e escolha, incapazes de responder em seu próprio nome.

Rejeitamos com veemência todas as instituições sociais que discriminam e excluem e assim diante da ação covarde de tais instituições, concluo, então, afirmando que parece sempre tempo de dizer “por uma sociedade sem manicômios” não como ponto de chegada, mas como ponto de partida.